Entrevistas de Atleta
Simy
dispensado e agora goleador
Simy

De dispensado a goleador. O avançado nigeriano do Gil que João de Deus não quis - e que José Mota recuperou

Já se respira com mais tranquilidade em Barcelos. O Gil Vicente continua em zona de descida, no penúltimo lugar, mas a vitória nos Barreiros, a primeira da história do clube no terreno do Marítimo, fez os barcelenses entregar a lanterna vermelha ao Penafiel.

Os triunfos diante do Penafiel e do Marítimo são os únicos do Gil Vicente nas primeiras 20 jornadas da Liga e têm um denominador comum: Simeone Tochukwu Nwankwo. O que sobra em altura (segundo o site oficial do clube de Barcelos faltam-lhe apenas 2 centímetros para os dois metros), cortou-se no nome e no mundo da bola o nigeriano de 22 anos é apenas Simy, o gigante da frente de ataque do Gil Vicente.


O nigeriano de 22 anos é apenas Simy, o gigante da frente de ataque do Gil Vicente.

O avançado marcou o golo que carimbou os três pontos em ambos os triunfos e, por isso mesmo, é a figura desta ameaça de recuperação que o Gil Vicente está a protagonizar.

Simy falou à MF Total e deu conta das desconfianças aquando da vinda para Portugal e da importância de José Mota na sua carreira.

 «Agarrei-me ao sonho de jogar na primeira divisão de Portugal»

A história de Simy começou a cruzar-se com o futebol aos quatro anos, altura em que integrou a equipa do Guo, clube de Lagos, cidade nigeriana de onde o jogador é natural. Os primeiros adversários foram os estudos, com quem tinha de dividir os pontapés na bola.

«Só podia jogar à bola depois da escola», refere o jogador que se mudou para Portugal quando ainda era júnior. Na Nigéria não era profissional, estava ainda na formação quando surgiu a possibilidade de se mudar para o Portimonense e assinar desde logo um contrato profissional.

«São culturas completamente diferentes, mas foi um bom passo para mim», reconhece.

Simy recorda que a mudança não foi fácil. «Foi uma decisão muito difícil. Eu queria vir, tinha esse sonho. Mas uma coisa é mudar de clube no teu país, outra coisa é sair do teu país, sem os pais, quando ainda és menor. Foi uma decisão difícil, os meus pais compreenderam e não estou arrependido. Tivemos de ter muito espírito de superação e de sacrifício».

Tal como a tomada de decisão, também os primeiros tempos no Algarve foram difíceis. «Senti muito a falta da minha família, foi mesmo muito complicado e apenas o tempo ajudou a adaptar-me. Agarrei-me ao sonho de jogar na primeira divisão de Portugal», diz de forma nostálgica o avançado do nigeriano.

 


«Dispensável por João de Deus? Não foi fácil nem difícil»

Depois de dar nas vistas em Portimão, onde jogou duas temporadas na equipa principal, Simy mudou-se para o Gil Vicente. Para trás deixou uma marca de 19 golos nas duas temporadas em que disputou a II Liga ao serviço do Portimonense.

 Cobiçado por vários clubes, Simy foi a grande contratação do Gil Vicente na época passada. Foi apresentado com pompa e circunstância, sendo mesmo a grande surpresa da festa de apresentação oficial da equipa gilista aos seus associados.

Não conseguiu apontar qualquer golo, apesar de ter sido utilizado em 22 jogos por João de Deus.

Um registo que o colocou no lote de dispensáveis no início da presente temporada. Estava no plantel enquanto nos gabinetes se arranjava uma solução para avançado. O empréstimo era o cenário mais provável, mas o arranque em falso da equipa de Barcelos e a troca de treinador trocaram as voltas ao destino de Simeone Nwankwo.
 
«Foquei-me sempre ao máximo no meu trabalho para ser opção e estar à disposição do treinador. O resto são coisas do futebol. Não foi fácil nem difícil, limitei-me a trabalhar sempre», atira Simy, em relação ao arranque de época tremido.

Nova vida com José Mota: «Dá-me confiança»

Com a chegada de José Mota as coisas foram diferentes. O novo treinador do Gil elogiou a perseverança e o trabalho do avançado numa das primeiras conferências de imprensa em que falou como líder máximo do grupo de trabalho gilista.

Nem foi preciso perguntar, saiu espontaneamente a Simy. «Estou muito grato ao José Mota. Tem sido muito importante para mim, porque tem-me dado confiança e oportunidades para fazer o meu trabalho», referiu o jogador sobre José Mota.

O nigeriano já leva oito golos com a camisola do Gil Vicente. Depois da primeira época em branco, estreou-se a marcar na Taça da Liga e inscreveu o seu nome no principal campeonato português com um bis no Estádio do Bessa. Dois golos que não valeram qualquer ponto, mas que ainda assim não travaram a ambição do avançado.

Seguiram-se mais quatro golos na Liga; todos eles deram em pontos para o Gil Vicente. Marcou ao Estoril, Penafiel, V. Guimarães e mais recentemente ao Marítimo.

«Não me sinto o herói da equipa. Mas, como qualquer avançado, quando se marca golos sentimo-nos bem. A equipa está sempre acima de tudo e o mais importante é que os meus golos possam ajudar o Gil Vicente», revelou o avançado que já leva oito golos na presente temporada.
 
«Sonhos do Simy? Ganhar ao Paços no sábado»

De poucas falas, mas de sorriso fácil, Simy referiu-se várias vezes aos «sonhos» na conversa que teve com a MF Total. Primeiro o sonho de ser profissional, depois de jogar no principal escalão do futebol português. E agora? Quais são os sonhos do nigeriano?

«Só penso no Gil Vicente. Não tenho nenhuma meta de golos nem outros pensamentos. O meu sonho é ganhar ao Paços de Ferreira no sábado, que é um adversário fortíssimo e temos de estar à altura para conseguir outra vitória», mencionou Simy deixando vir ao de cima a sua enorme honestidade e ao mesmo tempo evidenciando o respeito que tem pelo Gil Vicente.

À insistência, o gigante avançado, um dos jogadores mais altos da Liga, esconde-se atrás da sua altura e sorri: «Eu, tal como os meus colegas, estamos focados no nosso trabalho. O objetivo do Gil Vicente é o mesmo do início da época: a manutenção; é por isso que eu luto e é por isso que vou continuar a trabalhar».

Entendido. O foco de Simy está no Gil e, pelo menos para já, não entra em aventuras nem ousa esboçar voos mais altos. O avançado que se destaca pela envergadura física espera poder continuar a ajudar o Gil Vicente na luta pela manutenção. Afinal de contas, garante «que foi sempre nisso que esteve focado, em fazer o seu trabalho».

Fonte: Maisfutebol
Autor: Nuno Simões