Portugal foi ontem
derrotado em Guimarães pelo Equador. Honestamente nunca espero nada de bom
nestes jogos, servem para os jogadores porem a conversa em dia, o tal espírito
de grupo, para fazerem desfiles de carros e roupa à chegada ao estágio e, acima
de tudo, para não terem lesões. Os campeonatos estão na fase decisiva, a Liga
dos Campeões recomeça este mês e estes jogos a brincar servem para um ou outro
jogador cumprir o seu sonho, pouco mais. Ainda para mais quando jogamos com
selecções de nível inferior, a motivação é ainda menor e da do adversário, que
pretende mostrar serviço, é bem maior. Depois acontecem resultados destes que,
apesar de não influenciarem qualquer campanha de apuramento, não prestigiam
ninguém. Aliás nos últimos jogos amigáveis os resultados têm sido sempre
paupérrimos, só quando é a doer é que o “chip” muda. Não sei o que chamar a
isto, gestão inteligente de carreira ou clara falta de profissionalismo? Uma
coisa eu sei, estes jogos não valem de nada, pelo menos para Portugal, porque a
Espanha nem assim brinca em serviço. Perante tais contingências e tal atitude a
razão fica do lado dos clubes, que vêm estas partidas como prejudiciais aos seus
objectivos e nada vantajosas para a Selecção, sim porque o que Portugal joga
nestes encontros é substancialmente diferente do que joga em partidas oficiais,
isto só poderá ser um treino para aquilo que não se deve fazer.
Mas vamos ao jogo
propriamente dito, uma partida com muitos golos, o que neste caso foi sinónimo
de muitas falhas, alguns momentos de bom futebol, o golo de Cristiano Ronaldo e
o de Caicedo são exemplo disso, e duas equipas de caçadores, uma caça para
comer a outra para se divertir. Ganhou quem tinha fome. Nos portugueses, pela
positiva, Cristiano Ronaldo, João Moutinho, Fábio Coentrão e Hélder Postiga
mostraram como se devem encarar estes jogos. Apesar de Postiga não ter feito um
grande jogo, lutou e movimentou-se sempre, demonstrando que é difícil ser ponta
de lança numa equipa com dois extremos como estes, em especial Nani, que pensa
que a bola é só dele. Aliás, deve sair do estádio a pensar que bela assistência
que eu fiz, mas não se deve lembrar das outras 10 ou mais que tentou e não
conseguiu, emperrando o jogo português. Ferguson tem muitos anos de futebol,
ali a tolerância é diferente, daí a explicação para uma época pouco sucedida. Moutinho
e Coentrão foram até ao fim sempre no máximo e Cristiano Ronaldo, muitas vezes
tão criticado neste tipo de situações, este a nível alto nunca fugindo do jogo
que coroou com um grande golo. Quanto às exibições menos coloridas, isto é um
eufemismo, nem vale a pena detalhar porque foram praticamente todos os
restantes. No que diz respeito a Paulo Bento foi um jogo para esquecer,
tacticamente entrou com o habitual e quando teve de mudar falhou por completo.
Parecia um treinador dos anos 80 ou 90 que quando está perder, vou usar uma
expressão típica dessa altura, mete a carne toda no assador, só que o assador
era pequeno e a carne ficou toda uma em cima da outra gerando confusão, o que
só não levou a uma derrota mais desnivelada por ineficácia equatoriana. Que
sirva de exemplo para o futuro. Mas não foi só na parte táctica que o nosso
seleccionador falhou, também na dialéctica mostrou incoerência, algo nada
habitual em Paulo Bento. Vir dizer que nos jogos de preparação para o Euro
também não ganhámos à Polónia, Macedónia e Turquia e depois fomos à meia-final
da competição, ou dizer que este tipo de jogos não servem para nada depois é
que é importante é a mesma coisa. Mais grave é que num passado muito recente “pegou-se”
com Pinto da Costa por causa da importância destes encontros, ontem deu-lhe
razão. Também na gestão de jogadores notou-se a “picardia” com o presidente do
FC Porto. Moutinho ficou até ao fim, o que é justo, quem quer ganhar deixa os
melhores em campo, mas por essa linha de raciocínio porque é que Cristiano
Ronaldo saiu quando o jogo estava 2-2? Não estão em primeiro lugar os
interesses de Portugal? Para quem sempre teve na coerência uma bandeira, e
justificada diga-se, ontem foi um mau dia.