Crônicas de Comentadores
Vítor Pereira deve ou não ficar?
A análise ao desempenho do treinador
Vítor Pereira deve ou não ficar?

Numa altura em que o campeonato se vai decidindo, o FC Porto ainda decidiu, pelo menos publicamente, quem vai ser o treinador da próxima época. Por norma, é nestes momentos, em que a equipa atravessa dificuldades, que Pinto da Costa renova contrato com o técnico, dando um sinal de confiança para inverter a tendência menos positiva. Até agora, esse voto ainda não surgiu, o que deixa antever uma provável mudança no comando técnico na próxima temporada. Será uma boa decisão? É o que vamos tentar perceber a seguir.

Modelo e sistema de jogo de Vítor Pereira         

O treinador portista opta invariavelmente por um sistema de jogo assente no 4x3x3. Um sistema que evolui de acordo com o modelo de jogo, que tem como principais características a pressão com linhas bem adiantadas, a proximidade de linhas, a posse de bola no meio-campo adversário, circulação de bola a toda a largura, procura de zonas interiores para finalização, preferência nos passes de ruptura em detrimento dos cruzamentos, marcação zonal e forte capacidade de transição ataque-defesa. São estas as principais premissas dos azuis-e-brancos.

Vantagens e desvantagens                      

Esta forma de jogar permite à equipa um menor desgaste físico, um maior controle do jogo e menos situações de golo ao adversário. O único momento é que há algum desgaste físico é na recuperação da bola, que por norma é alcançada de forma rápida. A contínua posse de bola provoca no adversário um desgaste extra e a perda de discernimento, o que implica falhas colectivas e individuais na estrutura do oponente.

Só que este modelo obriga a uma grande disponibilidade mental, técnica e táctica, pois as zonas do terreno mais procuradas são as interiores, onde há uma maior densidade de atletas e os espaços são menores, por isso os momentos de desconcentração adversários têm de ser aproveitados, o que implica uma concentração constante. Como os métodos para alcançar a finalização giram todos à volta do mesmo, quando a equipa antagonista consegue fechar esses espaços durante bastante tempo, a ansiedade, que por norma está na outra equipa, transfere-se para os portistas. É nessa altura que é necessário um abre-latas, um jogador que através da sua qualidade individual consiga criar aquilo que a equipa não alcança, um jogador tipo Hulk, que atrapalha o normal funcionamento do colectivo, mas que sozinho pode criar desequilíbrios que por vezes a equipa não consegue. Na fase de transição ataque-defesa, devido à proximidade das linhas, o posicionamento é determinante, o que implica que só jogadores de elevada capacidade táctica o possam fazer na perfeição, um mau posicionamento origina uma situação de perigo e uma falha técnica individual idem.

A falta de profundidade neste tipo de jogo obriga a uma segunda linha certeira no remate, pois é uma forma de obrigar o adversário a sair da sua zona de conforto. Mas porque é que o FC Porto raramente procura a linha de fundo? Porque é que não abre o jogo e possibilita outro tipo de situações de finalização? Primeiro porque a equipa ganha a bola em zonas altas do terreno, o que não lhe permite grande profundidade. Depois, porque tem poucos jogadores para o fazer, dos alas apenas Atsu e Varela têm capacidade para esticar o jogo, algo que não acontece com a mesma qualidade por parte de James e Izmaylov. Por último, porque os dragões põem poucos homens na área para a finalização, normalmente só aparece Jackson, o extremo do lado contrário e por vezes Lucho ou Moutinho. Os cruzamentos da linha são vantajosos, porque permitem aos avançados atacarem de frente a bola, mas em caso de corte podem permitir grandes desequilíbrios na estrutura defensiva, pois ter três ou quatro jogadores na área para finalizar, implica um despovoamento do meio-campo, ou seja, um posicionamento deficitário para responder a um contra-ataque adversário. Ora, neste jogo de equilíbrios Vítor Pereira prefere não arriscar muito, preferindo entrar na área por zonas interiores ou através de passes de ruptura.

Para terminar a falta de Plano B, os azuis-e-brancos sempre que precisam de mudar o rumo de um jogo apenas alteram os intervenientes. Não há uma estratégia alternativa que obrigue o adversário a mexer no seu sistema defensivo, apenas alterações na capacidade individual dos jogadores, que acrescentam ou retiram qualidades à equipa. A vinda de Liédson até ao momento não se tem mostrado profícua, bem pelo contrário, pois raramente é utilizado. Já com Kléber acontecia o mesmo, se bem que com menor frequência. Os adversários dos dragões sabem o que vão encontrar, apenas tendo de se preparar para um tipo estratégia.

Personalidade

O treinador espinhense tem tido alguma dificuldade em convencer os adeptos e simpatizantes portistas das suas capacidades. Os motivos invocados são diversificados, mas na minha opinião o principal é a falta de carisma, que em muito se traduz na falta de à vontade com que aborda as conferências de imprensa. Melhorou nesse item durante esta época, mas ainda se nota que não é um local onde se sinta confortável. Outro dos factores, o mais importante, é a liderança, ou na falta dela. Não sei se é real, mas a maneira como conseguiu segurar a equipa na época passada demonstra que é uma possibilidade grande. Só estabilizou a equipa quando correu com os insatisfeitos, demonstrando não ter capacidade para ultrapassar esses problemas de outra forma, nem de conseguir impermeabilizar o grupo aos descontentes. Ainda agora disse que James não estava em condições de actuar 90 minutos, pois quatro dias depois, após o colombiano ter dito que não tinha qualquer problema e que podia jogar uma partida inteira, James jogou mesmo o encontro completo contra o Marítimo, tendo Varela sido substituído, ele que tinha entrado no decorrer da partida. Dúvidas ou certezas sobre a sua liderança que não se coadunam com a sua competência técnica, onde tem demonstrado qualidade. Nota-se que acredita no seu trabalho, que sabe o que faz e o que pretende para a equipa. Em quase dois anos só por uma vez vacilou, pelo menos de forma evidente, foi na segunda mão contra o Málaga, jogo em que se notou algum receio da sua parte. Nas restantes partidas encarou sempre o adversário de igual para igual, nunca temendo o valor do oponente e acreditando não só na equipa como naquilo que desenvolve com ela.

Vítor Pereira deve ou não continuar?

Se tivermos como base de resposta os títulos conquistados, a resposta é sim. O treinador portista conquistou uma Liga e duas Supertaças em época e meia de trabalho que, apesar de não ser brilhante, é positivo. Além disso, ainda tem a possibilidade de alcançar o 2º título e a Taça da Liga, podendo perfazer quatro ou cinco troféus em dois anos. Onde é que Vítor Pereira tem falhado? Na Taça de Portugal, eliminado pela Académica (3-0) em 2012 e pelo Sporting de Braga (2-1) em 2013, numa fase ainda prematura da prova. Nas competições europeias, em 2012 na liga dos Campeões não conseguiu ultrapassar um grupo acessível ficando na 3ª posição, o que remeteu o clube para a Liga Europa, onde foi eliminado logo nos dezasseis-avos-de-final pelo Manchester City. Nesta temporada conseguiu o objectivo primordial na prova maior da UEFA, passou a fase de grupos com um bom aproveitamento, mas depois claudicou nos oitavos-de-final, uma eliminatória que o FC Porto poderia e deveria ter ultrapassado. Desaires em duas competições importantes, mas não prioritárias. O objectivo principal é sempre o campeonato nacional e, aí, a resposta tem sido bastante boa.

Nos últimos 20 treinadores que passaram no FC Porto, grandes glórias do universo azul, Vítor Pereira, na Liga, é aquele que detém a quinta melhor marca (83%), isto porque Afredo Murça que orientou apenas um jogo e Augusto Inácio que orientou sete estão incluídos, de outra forma ostentaria a 3ª melhor marca atrás de Villas-Boas (93%) e Bobby Robson (84%). Portanto à frente de treinadores como José Mourinho (82%), Artur Jorge (81%) ou José Maria Pedroto (74%), verdadeiros ícones do futebol portista. No que respeita a vitórias, tem uma percentagem de 75%, igual a António Oliveira e Artur Jorge, e inferior a Alfredo Murça (100%), apenas um jogo, Villas-Boas (90%), Augusto Inácio (86%), apenas sete jogos, Bobby Robson (78%) e José Mourinho (76%). Outro dos destaques são as derrotas sofridas, onde é 5ºcom apenas 2%, atrás de Villas-Boas, Quinito, Inácio e Murça que têm 0%. De referir que todos eles têm menos jogos efectuados, Villas-Boas tem 30, Quinito tem 11, Inácio tem 7 e Murça tem apenas 1. Para terminar, tem a 3ª melhor média de golos obtidos (2.3) em igualdade com António Oliveira, sendo batido por António Morais (2.5) e por Villas-Boas (2.4). Números impressionantes de um treinador que não consegue convencer a massa adepta azul. Estes números reflectem os resultados desde 1976/77 ininterruptamente, estando ainda contabilizada a primeira passagem de José Maria Pedroto de 1966/67 até 1968/1969. A tabela seguinte demonstra a classificação final destes últimos 20 treinadores que disputaram jogos no principal escalão do futebol português, onde, como é óbvio, não foi incluído Luigi Del Neri, visto não ter efectuado nenhum encontro oficial.
Tabela com o desempenho dos úçtimos 20 treinadores do FC Porto em http://www.vantagemnumerica.pt/news/vitor-pereira-deve-ou-não-ficar-na-proxima-epoca-/
Comentador: Pedro Santos Pereira
Fonte: www.vantagemnumerica.pt
Autor: Pedro Pereira
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