BEM VINDO AO NOSSO SITE
Quinta-feira, 25-04-2024 14:53
Periodicidade Semanal Nº 4011
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Numa altura em que o
campeonato se vai decidindo, o FC Porto ainda decidiu, pelo menos publicamente,
quem vai ser o treinador da próxima época. Por norma, é nestes momentos, em que
a equipa atravessa dificuldades, que Pinto da Costa renova contrato com o
técnico, dando um sinal de confiança para inverter a tendência menos positiva.
Até agora, esse voto ainda não surgiu, o que deixa antever uma provável mudança
no comando técnico na próxima temporada. Será uma boa decisão? É o que vamos
tentar perceber a seguir.
Modelo
e sistema de jogo de Vítor Pereira
O treinador portista
opta invariavelmente por um sistema de jogo assente no 4x3x3. Um sistema que evolui
de acordo com o modelo de jogo, que tem como principais características a
pressão com linhas bem adiantadas, a proximidade de linhas, a posse de bola no
meio-campo adversário, circulação de bola a toda a largura, procura de zonas
interiores para finalização, preferência nos passes de ruptura em detrimento
dos cruzamentos, marcação zonal e forte capacidade de transição ataque-defesa.
São estas as principais premissas dos azuis-e-brancos.
Vantagens
e desvantagens
Esta forma de jogar
permite à equipa um menor desgaste físico, um maior controle do jogo e menos
situações de golo ao adversário. O único momento é que há algum desgaste físico
é na recuperação da bola, que por norma é alcançada de forma rápida. A contínua
posse de bola provoca no adversário um desgaste extra e a perda de
discernimento, o que implica falhas colectivas e individuais na estrutura do
oponente.
Só que este modelo
obriga a uma grande disponibilidade mental, técnica e táctica, pois as zonas do
terreno mais procuradas são as interiores, onde há uma maior densidade de
atletas e os espaços são menores, por isso os momentos de desconcentração
adversários têm de ser aproveitados, o que implica uma concentração constante.
Como os métodos para alcançar a finalização giram todos à volta do mesmo,
quando a equipa antagonista consegue fechar esses espaços durante bastante
tempo, a ansiedade, que por norma está na outra equipa, transfere-se para os
portistas. É nessa altura que é necessário um abre-latas, um jogador que
através da sua qualidade individual consiga criar aquilo que a equipa não
alcança, um jogador tipo Hulk, que atrapalha o normal funcionamento do
colectivo, mas que sozinho pode criar desequilíbrios que por vezes a equipa não
consegue. Na fase de transição ataque-defesa, devido à proximidade das linhas, o
posicionamento é determinante, o que implica que só jogadores de elevada capacidade
táctica o possam fazer na perfeição, um mau posicionamento origina uma situação
de perigo e uma falha técnica individual idem.
A falta de profundidade
neste tipo de jogo obriga a uma segunda linha certeira no remate, pois é uma
forma de obrigar o adversário a sair da sua zona de conforto. Mas porque é que
o FC Porto raramente procura a linha de fundo? Porque é que não abre o jogo e possibilita
outro tipo de situações de finalização? Primeiro porque a equipa ganha a bola
em zonas altas do terreno, o que não lhe permite grande profundidade. Depois, porque
tem poucos jogadores para o fazer, dos alas apenas Atsu e Varela têm capacidade
para esticar o jogo, algo que não acontece com a mesma qualidade por parte de James
e Izmaylov. Por último, porque os dragões põem poucos homens na área para a
finalização, normalmente só aparece Jackson, o extremo do lado contrário e por
vezes Lucho ou Moutinho. Os cruzamentos da linha são vantajosos, porque
permitem aos avançados atacarem de frente a bola, mas em caso de corte podem
permitir grandes desequilíbrios na estrutura defensiva, pois ter três ou quatro
jogadores na área para finalizar, implica um despovoamento do meio-campo, ou
seja, um posicionamento deficitário para responder a um contra-ataque
adversário. Ora, neste jogo de equilíbrios Vítor Pereira prefere não arriscar
muito, preferindo entrar na área por zonas interiores ou através de passes de
ruptura.
Para terminar a falta de
Plano B, os azuis-e-brancos sempre que precisam de mudar o rumo de um jogo
apenas alteram os intervenientes. Não há uma estratégia alternativa que obrigue
o adversário a mexer no seu sistema defensivo, apenas alterações na capacidade
individual dos jogadores, que acrescentam ou retiram qualidades à equipa. A
vinda de Liédson até ao momento não se tem mostrado profícua, bem pelo
contrário, pois raramente é utilizado. Já com Kléber acontecia o mesmo, se bem
que com menor frequência. Os adversários dos dragões sabem o que vão encontrar,
apenas tendo de se preparar para um tipo estratégia.
Personalidade
O treinador espinhense
tem tido alguma dificuldade em convencer os adeptos e simpatizantes portistas
das suas capacidades. Os motivos invocados são diversificados, mas na minha
opinião o principal é a falta de carisma, que em muito se traduz na falta de à
vontade com que aborda as conferências de imprensa. Melhorou nesse item durante
esta época, mas ainda se nota que não é um local onde se sinta confortável.
Outro dos factores, o mais importante, é a liderança, ou na falta dela. Não sei
se é real, mas a maneira como conseguiu segurar a equipa na época passada
demonstra que é uma possibilidade grande. Só estabilizou a equipa quando correu
com os insatisfeitos, demonstrando não ter capacidade para ultrapassar esses problemas
de outra forma, nem de conseguir impermeabilizar o grupo aos descontentes.
Ainda agora disse que James não estava em condições de actuar 90 minutos, pois
quatro dias depois, após o colombiano ter dito que não tinha qualquer problema
e que podia jogar uma partida inteira, James jogou mesmo o encontro completo
contra o Marítimo, tendo Varela sido substituído, ele que tinha entrado no
decorrer da partida. Dúvidas ou certezas sobre a sua liderança que não se coadunam
com a sua competência técnica, onde tem demonstrado qualidade. Nota-se que
acredita no seu trabalho, que sabe o que faz e o que pretende para a equipa. Em
quase dois anos só por uma vez vacilou, pelo menos de forma evidente, foi na
segunda mão contra o Málaga, jogo em que se notou algum receio da sua parte.
Nas restantes partidas encarou sempre o adversário de igual para igual, nunca
temendo o valor do oponente e acreditando não só na equipa como naquilo que
desenvolve com ela.
Vítor Pereira deve ou
não continuar?
Se tivermos como base de
resposta os títulos conquistados, a resposta é sim. O treinador portista
conquistou uma Liga e duas Supertaças em época e meia de trabalho que, apesar
de não ser brilhante, é positivo. Além disso, ainda tem a possibilidade de
alcançar o 2º título e a Taça da Liga, podendo perfazer quatro ou cinco troféus
em dois anos. Onde é que Vítor Pereira tem falhado? Na Taça de Portugal,
eliminado pela Académica (3-0) em 2012 e pelo Sporting de Braga (2-1) em 2013,
numa fase ainda prematura da prova. Nas competições europeias, em 2012 na liga
dos Campeões não conseguiu ultrapassar um grupo acessível ficando na 3ª posição,
o que remeteu o clube para a Liga Europa, onde foi eliminado logo nos dezasseis-avos-de-final
pelo Manchester City. Nesta temporada conseguiu o objectivo primordial na prova
maior da UEFA, passou a fase de grupos com um bom aproveitamento, mas depois
claudicou nos oitavos-de-final, uma eliminatória que o FC Porto poderia e
deveria ter ultrapassado. Desaires em duas competições importantes, mas não
prioritárias. O objectivo principal é sempre o campeonato nacional e, aí, a resposta
tem sido bastante boa.