Carlos Carvalhal defendeu a necessidade de um período de treino em conjunto antes de ser retomado o futebol, qualquer que seja o modelo adotado para controlar os riscos da covid-19.
Em declarações à A Bola TV, o técnico do Rio Ave destacou a importância do trabalho em conjunto no futebol, desvalorizando quase por completo os exercícios que os jogadores foram fazendo em casa desde a suspensão do futebol. "Isto de treinar em casa, para o futebol, vale zero ponto um", garantiu.
E deu "um exemplo muito rápido", usando por comparação o campeonato norte-americano de basquetebol, a NBA. "Vamos fingir que estamos em novembro. A NBA está ao rubro. Vamos pegar num jogador de basquetebol e trazêmo-lo para jogar futebol. Ao fim de dez minutos, o jogador melhor preparado da NBA está morto, não consegue jogar futebol. O contrário também é verdade", salientou.
Tal como um basquetebolista, um futebolista é preparado "para a especificidade da modalidade". "Temos de preparar com movimentos do futebol . Isto é que prepara uma equipa. O resto pode-se minorar, há uma aproximação que é bem vinda, mas o condicionamento geral não prepara o jogador", reforçou Carlos Carvalhal.
O treinador, que há semanas defendeu o fim do campeonato, mostrou-se agora recetivo ao regresso do futebol, apontando os testes de diagnóstico da covid-19 como "ponto de viragem".
Será preciso, contudo, garantir uma justiça igual para todos, algo que só pode acontecer quando as entidades do futebol definirem regras em conjunto com as autoridades de saúde.
"Imaginem que em Vila do Conde tínhamos um teste de covid e um outro clube também tinha, pode ser o Vitória de Setúbal neste exemplo. A Direção Geral de Saúde está dividida por áreas, em Vila do Conde poderia decretar uma quarentena para a equipa toda e em Setúbal poderia dar-se o caso de só ser para as pessoas que contataram diretamente o jogador", exemplificou.
Garantida a realização desses testes, previstos para 48 horas antes de cada jogo, o futebol estará pronto para recomeçar.
"Vamos correr alguns riscos, mas controlados. Não é um risco diferente de vocês no jornal ou de um doutor que vai para o escritório", sustentou.
E é uma retoma que também responde aos anseios da sociedade, mesmo para quem não gosta de desporto, dadas as limitações impostas pelo dever de recolhimento.
"Quando falamos de futebol estamos a falar de relações. A afetividade e o abraço ligam os jogadores, uma equipa faz-se pela ligação entre os diversos jogadores. Esta afetividade é precisa no futebol, até pela parte simbólica para as pessoas, que estão carentes neste momento dessa afetividade", sustentou o treinador do Rio Ave.
A realização dos testes à covid-19 48 horas antes de cada partida levanta outra questão, lembrou Carvalhal: "E durante o tempo entre o teste e o jogo?"
Embora não seja adepto de estágios, o técnico considerou fundamental que as equipas fiquem em concentração durante esse período.
"Não sou adepto, em Inglaterra não há essa cultura do estágio, mas vejo a necessidade dos jogadores estarem confinados nesse período temporal", concluiu Carlos Carvalhal.