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Tozé Marreco, o avançado que fez história no Tondela vive quinta experiência além-fronteiras na Bélgica
02-10-201508:05
António José Marreco Gouveia ou simplesmente Tozé Marreco. Um dos nomes
que ficou para a história recente de um dos clubes mais representativos
da região centro e que na última temporada se sagrou campeão da Liga 2:
Tondela. Tudo aconteceu a 24 de maio de 2015, uma data que jamais será
esquecida pelo avançado português. Mas refira-se que para celebrar
tamanha conquista, Marreco lutou durante anos a fio para que o seu nome
fosse destaque no futebol português.
Começou de tenra idade a
jogar com os amigos no Bairro Francisco Sá Carneiro, em Miranda do
Corvo. Aquilo que ao início não passava de uma mera brincadeira entre
amigos tornou-se mais sério no Lousanense, onde jogou o primeiro ano
como federado. Durante a formação passou ainda por vários clubes do
distrito de Coimbra, nomeadamente o União, a Académica e o Mirandense, e
desde cedo percebeu que o futebol não era apenas (mais) uma escolha.
«Desde
os Iniciados que dizia que queria fazer vida do futebol. Abdiquei de
muita coisa por isto e as escolhas ao longo do tempo foram sempre em
função deste objetivo», revela o avançado português de 28 anos em
conversa com A BOLA.
No Pampilhosa viveu o primeiro ano como
sénior e diga-se que foi o suficiente para outros voos. Através do seu
empresário foi prestar provas ao Zwolle, na Holanda, e duas semanas
depois já tinha contrato assinado. Com apenas 20 anos deu o salto da 2.ª
divisão B para a 2.ª divisão holandesa. E a verdade é que a aventura
correu muito bem: 16 golos em 37 jogos.
«A nível de treino era
incrível. Existia um treinador só para trabalhar com os avançados e
desta forma a evolução era tremenda. O futebol era sempre pelo chão e
muito ofensivo. Encontrei um país extremamente organizado. Apenas me fez
confusão o facto de o sol aparecer poucas vezes e de se jantar muito
cedo», descreve.
A perspetiva de regressar a Portugal para
representar um grande era um cenário em aberto e de facto houve
interesse no final da temporada. Rejeitou as propostas que recebeu na
Holanda para que esse desejo se concretizasse, mas o acordo em
território nacional acabou por não chegar a bom porto e Tozé Marreco
decidiu que a melhor opção seria prosseguir a carreira no Alavés, em
Espanha. Por lá cruzou-se com nomes como Ayala, Ricardo Oliveira, Fábio
Coentrão e Javi Guerra.
«Espanha é um país fantástico para se
viver. As ruas estão cheias todas as semanas, o clima é muito bom e a
nível desportivo é outro mundo. O futebol espanhol é incrível, vivido de
uma forma única e com uma paixão imensa», aponta o avançado português.
Terminou
a época 2008/2009 na Bulgária ao serviço do Lokomotiv Mezdra,
experiência que garante não ser para recordar. Não foi feliz em
território búlgaro e decidiu dar novo alento à carreira. Novo ano, nova
experiência. Nuno Patrão (empresário) apresentou-lhe a possibilidade de
rumar ao Servette, da Suiça, onde o proprietário do clube Mr. Pishyar
estava à procura de um avançado com as suas características. Viajou para
Genebra e acertou o contrato.
«É uma cidade muito boa e com
muitos portugueses. Gostei muito desse ano na Suíça. Havia um equilíbrio
entre o querer jogar bem mas sem ser muito ofensivo. Campos pequenos
que proporcionaram inúmeros duelos como na nossa Liga 2.»
Travessia na Europa culmina com regresso a Portugal
A
experiência que foi adquirindo nos quatro países por onde passou até
aos 23 anos levou Tozé Marreco a tomar uma decisão importante. Mais uma.
Estava na altura de regressar ao seu país e «mostrar que podia jogar
cá». Ainda tinha contrato com o Servette e por isso saiu apenas na
condição de emprestado para o Aves.
«Foi mais uma experiência.
Estava a precisar de voltar a casa. O Aves é um clube que sempre foi
organizado e cumpridor. Mostrei que podia fazer golos cá e comecei a ter
mais mercado. No fundo, serviu para abrir portas em Portugal»,
conta-nos.
Com dez golos e 33 jogos na bagagem rumou à ilha da
Madeira para abraçar um desafio no União, que tinha regressado na
temporada 2011/2012 à Liga 2, para aquela que considera uma das
aventuras mais incríveis da sua carreira: «De todos os sítios que vivi, o
Funchal foi o meu favorito», garante Marreco, que aponta o clima, a
comida e principalmente a qualidade de vida como os pontos altos do
arquipélago.
Seguiu-se a Naval e o Beira-Mar em 2012/2013 e na
temporada seguinte o Tondela e o Olhanense. Em Aveiro conseguiu
concretizar um dos objetivos: a estreia na Liga. Sonho que voltou a
conquistar em Olhão. Contudo nem tudo correu como Tozé Marreco esperava.
A falta de oportunidades e a «situação extremamente complicada» que
esses clubes atravessavam condicionaram sobremaneira a sua afirmação na
principal liga do futebol português.
«Sei bem onde estava se me chamasse Marrecovic»
A
expressão pertence ao avançado português e foi proferida no início da
primeira etapa em Tondela. Cinco golos nos primeiros cinco jogos
oficiais justificavam o bom arranque depois de um final de época para
esquecer no Beira-Mar. O facto de ao Benfica terem chegado nesse mesmo
ano os sérvios Sulejmani, Fejsa, Djuricic e Lazar Markovic deram
bastante impacto a essas declarações, mais concretamente ao nome Tozé
Marreco.
«Teve muito impacto porque foi mal interpretada. Nunca
quis dizer que estava no Benfica. Foi simplesmente uma frase para
defender o jogador português, como sempre fiz», esclarece.
Um
aspeto peculiar na carreira de Tozé Marreco é o facto de em nove
temporadas enquanto sénior ter representado...11 clubes. Estranho? o
avançado explica as razões:
- Sempre que não me sinto bem, não
sou capaz de ficar. Por outro lado, muitas vezes foi na tentativa de dar
um passo em frente. Nunca fui empurrado para sair. Tenho essa
característica de não ser capaz de estar num sítio onde não me sinta
feliz. Voltei a Tondela como podia ter voltado a outros clubes.
Ano histórico em Tondela e saída para o Mouscron (Bélgica)
Regressou
a Tondela no início da temporada passada, uma casa onde tinha deixado
saudades, para um ano verdadeiramente histórico. A relação de «grande
confiança e respeito» permitiu que o regresso se concretizasse e a
verdade é que foi inesquecível. O Tondela subiu pela primeira vez nos
seus 82 anos de história à Liga e Tozé Marreco terminou a temporada com
25 golos.
«Um feito histórico. O nosso nome vai ficar para sempre
ligado à história do clube e essa é uma sensação ótima. Pessoalmente,
estava numa equipa que me ajudava a marcar muitos golos. O clube sempre
me respeitou e eu respeitei sempre o clube. Temos uma relação especial»,
descreve o antigo camisola 90 dos auri-verdes.
Quando tudo
apontava para um regresso de Tozé Marreco à Liga de uma forma mais
sustentada, fruto da enorme probabilidade de continuar a ser dono e
senhor da posição 9 do ataque dos tondelenses, eis que o Tondela anuncia
a rescisão do vínculo contratual do avançado. Tozé tinha uma cláusula
no seu vínculo que lhe permita rescindir o seu contrato quando bem
entendesse e na véspera do término da mesma acabou por acioná-la. E como
se justifica esta decisão?
«Ter os pés bem assentes na terra.
Tenho 28 anos, em Portugal nunca iria chegar a um grande e havia a
hipótese de fazer um contrato superior ao oferecido em Portugal. Não
podia continuar na luta de querer mostrar que podia chegar ao topo do
futebol português. Tomei uma decisão racional e deixei o coração de
lado», começa por explicar.
«Tive propostas concretas de três
equipas da Liga, mas aceitei outra proposta de um clube numa liga
interessante e num país ótimo», completa.
Rubricou um contrato
válido para as próximas duas temporadas com o Mouscron, da Bélgica, no
último dia de mercado, e revela que as primeiras impressões são as
melhores.
«O clube está num processo de restruturação dado que
foi adquirido pelo empresário Pini Zahavi. Tem todas as condições para
se trabalhar tranquilamente. Um bom campo de treinos e um estádio muito
bom. A cidade é muito sossegada e as pessoas têm sido muito simpáticas.
Já estou na minha casa e tenho televisão com os canais portugueses»,
descreve o novo camisola 90 do Mouscron, onde é companheiro de equipa de
Vagner (ex-Estoril) e de Frédéric Maciel (ex-FC Porto B).
«O
estádio está sempre cheio. Os adeptos dão um apoio incrível à equipa»,
sustenta o avançado que aponta a distância para a família, sobretudo
para o filho de sete meses, como a principal dificuldade nesta nova
aventura.
A estreia foi com o Club Brugge e o primeiro golo
diante o Deinze a contar para os oitavos-de-final da Taça da Bélgica. O
objetivo de Marreco passa por fazer uma «época tranquila» e que o
Mouscron assegure a manutenção «o mais rapidamente possível».
Psicologia, a outra paixão de Marreco
E
desengane-se quem pense que a única paixão de Tozé Marreco é o futebol.
Pois bem, o avançado português nunca descurou os estudos, procurando
conciliar sempre que «possível» o desporto com a Psicologia, na
Universidade de Coimbra.
«Acho fascinante a análise do ser
humano. Lidar com diferentes formas de estar e pensar é também um
desafio impressionante», remata.
Fonte : abola.pt
Academia de futebol